domingo, 13 de fevereiro de 2011

Segredo da Escuridão - Contos Sombrios 02

Uma visita para Beatrice
por E.H.Mattos
Transcrito por Kane Ryu


Beatrice olhava seu reflexo no espelho com atenção. A pele tão branca como a mais pura porcelana, os cabelos encaracolados, dourados como ouro, e com feições pequenas e delicadas; ela possuía a aparecência de um anjo renascentista. Porém a blusa azul escuro de abotoar e o jeans vermelho sangue que usava, quebrava um pouco esse ar angelical. Além disso, os olhos azuis, tão claros e brilhantes que pareciam ter luz própria, tinha uma malícia que não combinava com um ser celestial.

Por um momento, ela deixou escapar um riso divertido, enquanto se maquiava.

“Eu ia ficar louca se não tivesse reflexo”, pensou a vampira sorrindo largamente, exibindo seus pequenos, mas pontiagudos caninos.

_ Acho que toda vampira ficaria. _ Beatrice escutou uma voz masculina a suas costas, que a fez extremecer.

Aquela voz, a tanto tempo em silêncio, parecia vinda de algum lugar de seu inconsciente, das profundezas de sua alma. Vinda direto de um passado a muito distante. Só que não era um delírio seu, ele estava ali. Ela sentia sua presença, sentia até o cheio de sua pele... Definitivamente não era coisa de sua mente.

Olhou para o espelho e nada viu, mas ele estava ali. Beatrice moveu um pouco a cabeça e pode comprovar pelo canto do olho, o que o espelho insistia em manter oculto. Era ele, parado bem a porta do banheiro, seu criador, o vampiro que a tornou imortal.

A vampira tentou não parecer surpresa, voltou-se para o espelho e se irritou de não ver o reflexo do vampiro.

_ Não sei qual é a graça de bancar o fantasma. _ diz a vampira continuando a se maquiar, tentando não se abalar com a presença do outro.

Só que o comentário logo teria consequências. Beatrice sentiu ele se aproximar lentamente, como um felino pronto para atacar.

_ Realmente, tem horas que o melhor é ficar material... _ diz o vampiro agora bem atrás de Beatrice.

A voz dele vibrou em sua pele como uma carícia. Seu pescoço desprotegido, por causa de um coque, que usou para manter os cabelos secos durante o banho, era um convite ao velho vampiro. Beatrice o via se tornar visível pelo reflexo do espelho, que surgia diante de seus olhos ao mesmo tempo que o vampiro inclinou-se para beijar a tatuagem, em forma de cruz, que a vampira tinha na nuca.

_ O que te fez sair da tumba? _ indaga Beatrice num tom carregado de ironia, tentando ficar indiferente diante dos beijos do vampiro em seu pescoço.

O problema é que o velho vampiro a conhecia como ninguém e resistir as investidas dele, ia ficar cada vez mais difícil para a vampira.

Beatrice encarou seu criador pelo reflexo no espelho e mantendo-se séria, continuou a questioná-lo.

_ Não entendo, por que agora?

O vampiro colocou seu corpo colado ao de Beatrice, abraçando-a pela cintura, mantendo-a cativa em seus braços, enquanto falava ao seu ouvido.

_ Seu pai me procurou, está preocupado com você. Ele me contou tudo que aconteceu. Sobre seu amante, que ele tira seu foco...

_ Eu não acredito! _ exclama Beatrice ficando emburrada _ Ele está ficando um vampiro velho muito do fofoqueiro, isso sim! _ diz a vampira sem esconder o aborrecimento, voltando-se para o vampiro e buscando encará-lo, ao mesmo tempo que tentava se livrar de suas mãos, que insistiam em passear por seu corpo, provocando-a.

Só que ao invés de se livrar dos braços do vampiro, Beatrice deu a chance dele a segurar com facilidade pela cintura e colocá-la sentar na enorme pia do banheiro. Ela ainda tentou escapar, mas ele se colocou entre as pernas da vampira e a deixou sem saída. Contrariada, o encarou de cara feia.

Beatrice o olhava fixamente, atrevida e o vampiro deixou um sorriso maroto surgir no canto da boca. Ele tinha uma aparência peculiar e um tanto exótica, de um jovem de pele morena e cabelos escuros muito lisos, que possuía olhos negros e perversos. O vampiro lembrava um pouco os índios brasileiros, mas algo nele também lembrava a descrição dos antigos egípcios, aqueles dos tempos do faraó, talvez fosse o contorno dos olhos, que pareciam pintados sutilmente.

Colado ao corpo de Beatrice ele tentou rouba-lhe um beijo, mas ela virou o rosto, o que acabou sendo um convite para rouba-lhe um outro tipo de beijo, o de vampiro. Beatrice sentiu a língua dele acariciar seu pescoço e gemeu baixinho. Fazia tanto tempo que não trocava aquele tipo de intimidade com um de sua espécie, que achou que conseguiria resistir ao charme de seu criador. Porém foi como se o tempo não tivesse passado, seu corpo reagia ao toque do vampiro e ardia de desejo.

Tentando ter a atenção do vampiro de outra forma, Beatrice tentou manter um diálogo.

_ Quando eu pedi que viesse, se recusou. _ falou ao seu criador, num tom magoado _ Precisávamos de sua ajuda e você negou. Quase fomos todos expostos!

_ Eu gosto de ver Roma queimar. _ ele sussurou no ouvido dela, enquanto mordia de leve a orelha da vampira.

_ Eu lembro...

Antes que Beatrice pudesse continuar aquela conversa, o vampiro tornou a acariciar o pescoço dela com a língua por um breve instante e dessa vez não hesitou, ao invés de continuar com os beijos e carícias, a mordeu, fazendo-a estremecer em seus braço, com o êxtase da mordida.

Por um breve momento, Beatrice pensou em empurrá-lo para longe, mas não teve forças, a mordida fazia até o mais fortes dos vampiros se render. A mordida de um vampiro era sua fonte de poder e também de prazer. E poucos vampiros da idade dela podiam se dar ao luxo, puro e simplesmente, de se deixar morder por um outro de sua espécie por prazer. Os de sangue antigo tinham que proteger sua herança, pois seu sangue podia significava tornar um jovem vampiro poderoso ou levá-lo a loucura e a morte, consumidos por tamanho poder. Por não terem a maturidade e o conhecimento devido, jovens vampiros ficavam incapazer de manter o controle e também seríam incontroláveis para seu criador, que certamente acabaria por destruir suas criações.

No caso de Beatrice, seu criador era um dos poucos vampiros com quem podia dividir tal prazer. Tão antigo quanto a vampira, podia dá-lhe o prazer da mordia sem maiores consequências.

2009

K.R.

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2 comentários:

  1. Assim ninguém resiste, né? Tomara que o Kane apareça pra acabar com a festa! heue

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  2. Depois desse conto, já estou meio que arrependido de ter perturbado a Mattos, para transcrevê-los para um blog... Tem coisas que é melhor não saber sobre a namorada, especialmente quando é uma vampira que tem sabe lá quandos séculos de idade. O.ó

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