terça-feira, 8 de março de 2011

Segredo da Escuridão - Contos Sombrios 04

A Romana e o Estrangeiro
por E.H.Mattos
Transcrito por Kane Ryu

O carnaval sempre foi uma festa marcada por grandes festejos, onde junto da comia e bebia, havia a busca incessante pelos prazeres que eram negados por todo o ano. Lembro-me que o carnaval durava sete dias em minha amada Roma, na época da antiguidade, e se não me engano acontecia em dezembro. Entenda, depois de séculos de vida e muitos calendários, tem um momento que você acaba meio perdida em datas.

As atividades em Roma eram paralizadas durante todos os dias do carnaval e até os escravos ganhavam liberdade temporária para fazer o que quisessem. As festas tinha muita comida, bebida e as restrições morais eram liberadas.

Eu não me lembro ao certo o motivo dos festejos, que hoje é ligado as novas religiões, mas que naquela época acho que tinha algo a ver com o deus Baco, o mesmo deus grego Dioniso do vinho. Confesso que eu sempre gostei da festa, o motivo dela existir nunca me interessou. Fosse o carnaval de origem grega, romana ou qualquer outra, o melhor dos carnavais ainda eram os venezianos.

O Carnaval de Veneza surgiu a partir de uma tradição datada do século XVII, onde a nobreza se disfarçava para sair as ruas e se misturar a plebe. Para ninguém saber quem era quem, usavam máscaras que se tornou um dos elemento mais importante do carnaval veneziano e uma tradição mantida até hoje.

Os festejos carnavalescos em Veneza duravam um pouco mais que em Roma, 10 dias e durante as noites, aconteciam bailes por toda a cidade.

Foi no meu primeiro Carnaval em Veneza que realmente me apaixonei pela festa. Todos na cidade, nobres e plebeus iam e vinham dos salões, andando pelas ruas mascarados.

Eu usava uma roupa que mesclava preto, vermelho e branco, com uma máscara parcial no rosto e um chapéu com guizos, que me dava uma aparência semelhante a arlequina que conhecemos hoje, só que mais chique, pois o traje que usava era uma roupa usada pela nobreza da época.

Naquele primeiro carnaval na cidade dos canais, em meio a todos aqueles mascarados, eu reencontrei um velho amigo, um vampiro de olhos verdes cintilantes que eu seria capaz de reconhecer até em meio aquela multidão.

_ Quem é você, estrangeiro? _ eu perguntei ao me aproximar dele, sorrindo.

Ele usava uma máscara parcial e chapéu, como eu, e pelos trajes nas cores preta e branca, poderia ser confundindo com um arlequim hoje.

Ele sorriu largamente, sem medo de deixar seus caninos visíveis por um breve momento. Ninguém ali iria prestar atenção em nós, todos estavam ou muito bebados, ou distraídos com seus pares.

_ Romana? _ indagou o vampiro, me abraçando com alegria, assim que me reconheceu.

Dançamos pelos salões e apreciamos os festejos em Veneza, ocultos em nossas fantasias particulares, onde eu era a Romana e ele o Estrangeiro, invertendo os papéis de quando nos conhecemos.

Nossos rostos parcialmente cobertos pelas máscaras que só cobriam os olhos e se mesclavam com a palidez de nossa pele vampiresca. No entanto, meus lábios tingidos de carmim, o deixavam excitado e em meio a beijos provocantes, ele ensaiava uma mordida em meu lábio inferior. Queria tornar a provar do meu sangue, tanto quanto eu queria do dele, mas depois de séculos ficamos não só mais maduros, como também temerosos.

Tudo porque quando um vampiro passava dos mil anos, nos era aconselhado não compartilhar do nosso sangue com outros. Talvez, em alguns casos, com algum de idade semelhante e mesma linhagem, mas o melhor era conter a tentação.

_ Acha prudente? Devíamos ficar só com a parte humana da brincadeira, o que acha? _ eu o questionei.

_ Ia te perguntar a mesma coisa, mas como somos ambos maiores de mil anos...

_ Eu sei, mas somos de outra descendência, acho que seria um risco. Nossos poderes se ampliam com o tempo e não sabemos o que aconteceria.

_ Tem razão. _ ele concordou, a contragosto tanto quanto eu.

Naquela noite, depois de saciarmos nossa sede com um casal em busca de experiências novas, saciamos nossos desejos como se fossemos dois mortais. Nos deixando envolver pelo sedutor clima do Carnaval de Veneza, a festa da carne, dos prazeres e das paixões.

Trecho do Diário de Beatrice


K.R.

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