quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Segredo da Escuridão - Contos Sombrios 07

Desejos ocultos nas sombras
por E.H.Mattos
Transcrito por Kane Ryu

( Um conto pós Valentine´s Day)


Entre aquela paredes eles não tinham nomes, eram apenas um adão e uma eva. Fora daquele quarto não havia nada, o paraíso era ali e o resto do mundo não existia.

O vampiro a possuía de corpo e mente, seu sangue e sua vida eram seus, mas a alma da mortal era livre, assim como seu coração.

Aquela mortal levava o vampiro a loucura, ele brincava com sua mente, a fazia encontrá-lo sempre que queria. Fosse onde fosse, ela sempre atendia seu chamado. Ele a buscava em sonho, a possuindo de uma forma, que não a deixava ter uma vida como de qualquer mulher madura e solteira de sua idade. O vampiro a fazia usar roupas num estilo simples e despojado, tudo para ela não chamar a atenção por onde ia, especialmente de outros homens. Ele a fez ser o tipo caseiro e workaholic, a evitar lugares da moda e qualquer outro tipo de ambiente onde os humanos "caçavam" seus parceiros. Era sua e apenas sua, não a queria com ninguém.

As sombras do quarto de hotel os envolvia e pouco se via de ambos. O vampiro envolvia o corpo da mortal, possessivo. Beijava-lhe a boca, o pescoço, os seios nus... Faminto. Ele havia chegado ao Rio de Janeiro, no Brasil, a um dia e já teria que partir novamente.

"Tão pouco tempo", lamentava o vampiro, enquanto beijava a boca da mortal, deliciado, a qual retribuía aos carinhos com um desejo equivalente ao dele.

Os olhos negros dela eram como o mar noturno iluminado pela lua, convidativo, com promessas de prazeres ocultos por sob as águas. E tudo que o vampiro desejava era um pouco mais de tempo nos braços de sua amada mortal, para mergulhar nas profundezas de seus olhos e se deliciar com os prazeres ocultos prometidos.

Amante de tudo que era prazeroso do mundo humano, já teve várias mulheres mortais, além de imortais, em sua cama. Sempre se gabando que era raro passar uma única noite sozinho.

Só que aquela morta fez algo que poucas se atreveram a fazer, o tratava como igual. Verdade que até houve vampira que ousou tal coisa, mas uma mortal, isso era novidade. A mulher não tinha medo dele, pois não temia a morte. Na verdade, a mortal parecia deseja muito encontrá-la. Não que tivesse tendência suicida, mas simplesmente pela certeza profunda que a morte era só o começo. Isso ele também sabia, já que suas experiências através dos tempos de vida imortal deixavam claras, que além da vida havia, simplesmente, mais vida. Talvez não como se imagina, mas existia.

O vampiro mordeu a jugular da mortal com cuidado, sempre evitando deixar marcas permanente. Ela passaria os próximos dias usando blusas de gola alta, mas assim que as marcas de mordidas sumissem voltava as roupas habituais. Discretas como sempre, é claro. E em cada toque, beijo ou mordida, a amava como só um imortal como ele podia. Ele a amava como homem e como vampiro.


Saciados, pois ele também se deliciava em dar prazer as suas amantes, o vampiro não resistiu em perguntar:

_ Por que não vem comigo?

A mortal sorriu, sem abrir os olhos, abraçando o vampiro, que estava deitado sob ela.

_ Já falamos sobre isso. Você tem sua vida e eu a minha, monsieur Vampire.

Ele riu. Adorava quando ela falava francês com ele. E era só com o vampiro que fazia tal coisa, pois quando longe de sua presença, a mente da mortal não tinha lembranças da existência dele e do segredo da existência de seu mundo das sombras. Uma mente sem lembranças era a segurança plena que o segredo da escuridão estaria a salva, assim como o mortal que tivesse sido exposto ao milenar segredo. Por isso ela não lembrava que sabia falar francês, pois foi ele que a ensinou o idioma.

_ Por que prefere me esquecer? Outra mortal, em seu lugar, desejaria saber a verdade...

_ Outra mortal? _ questionou ela, rindo, tentando fingir ciúmes.

A mortal era tão segura de si, que a certeza que o coração do vampiro era dela, nem a deixava ter o trabalho de sentir ciúmes.

_ Porque maltrata meu coração assim? _ falou o vampiro e então ergueu o rosto para encarar o dela em meio a penúmbria, ele a via bem no escuro _ Sabe que poderia torná-la vampira com ou sem sua permissão.

Ela fixou os olhos no vulto diante dela, enquanto o clima de paixão do quarto se dissipava e se tornava tenso. A escuridão que os envolvia parecia ainda mais densa, como se fosse engolir a ambos por completo.

_ Faça como quiser, mas isso não vai mudar nada. Nunca serei sua... Alias, não sou de ninguém. Odeio essa mania possessiva das pessoas de acharem que os outros as pertencem.

_ Não sou uma pessoa.

_ Então não se comporte como uma. Vai me dizer que depois de 100, 200... 1000, 2000 anos, ainda vai querer me ter ao seu lado. Eu duvido! _ falou a mulher num tom duro _ Existe um significado oculto na frase "juntos até que a morte o separem" que ninguém percebe.

_ E qual é?

_ Nada dura para sempre, nem as mais belas e grandes paixões.

_ E o amor?

_ Quem ama verdadeiramente não quer possuir. Por isso eu digo, se as pessoas soubessem realmente a diferença de amor e paixão, muita dor e sofrimento seriam evitados.

O vampiro a olhava fascinado. A desejava ainda mais. A cada palavra sua adoração pela mortal aumentava, enquanto a esperança de tê-la ao seu lado diminuía. Nunca seria dele por livre e espontânea vontade. Nunca seria de ninguém, essa era a dura verdade. Só uma situação inusitada a faria aceitar ficar ao lado do vampiro. E ele era paciente. Precisava ser, quando se é um imortal. Só que ele tinha tempo para esperar. Ela não. Verdade que mesmo com as mudanças naturais humanas, sua beleza havia sido bem preservada, até parecia mais bela com a idade, mas isso não a salvaria da morte e esse era o tormento do vampiro.

O que fazer diante do inevitado? Torná-la imortal a força e ter seu ódio eterno ou perdê-la para o tempo, mantendo o amor de sua amante mortal.

Porque ela o amava. Nunca deixou de ocultar dele tal coisa, mas era um amor sereno e demonstrado de uma forma que ele nunca experimentou.

"Deliciosamente diabólica", pensou o vampiro reeniciando as carícias provocantes e os beijos repletos de desejo, que a fazia gemer de prazer.

Um dia a venceria em seu próprio jogo, talvez até pelo cansaço. Ele não ia desistir e chegaria o dia que ela pediria para ficar ao seu lado. Só tinha receio do preço que pagaria por isso, pois se tinha uma coisa que o vampiro aprendeu bem em sua vida de imortalidade, era que para tudo há um preço e quanto mais desejamos algo, maior é o preço a ser pago.



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